66BR Um Jogo Sobre Viver com o Essencial e Sonhar com o Impossível

66BR é um jogo independente de narrativa interativa onde você não controla um herói

O Brasil é um país de extremos  e muitas vezes, de sobreviventes. Em meio a isso, nasce 66BR um jogo que não promete mundos mágicos, batalhas épicas ou gráficos espetaculares. Pelo contrário: ele entrega silêncio, escolhas difíceis, e a constante tensão de viver com muito pouco e sonhar com muito mais.

66BR é um jogo independente de narrativa interativa, onde você não controla um herói, mas uma pessoa comum. Talvez você já tenha visto alguém parecido: a mulher que vende doces na esquina, o entregador que atravessa a cidade, o estudante que trabalha à noite para pagar o curso. Você joga com gente invisível aos olhos de muitos, mas cheia de vida, de história  e de esperança. Com apenas R$66 por semana no bolso, o jogador precisa tomar decisões para sobreviver. Não há monstros nem armas. Os inimigos aqui são a conta de luz, o aluguel atrasado, a saúde negligenciada, a fome que aperta. A cada semana, novas situações surgem, testando o equilíbrio entre o que é urgente e o que é importante. Comer ou pagar a conta? Trabalhar mais ou descansar o suficiente para não adoecer? O jogo se passa em Bairro Novo, uma comunidade urbana fictícia inspirada em várias regiões brasileiras. O cenário é retratado com beleza e melancolia: vielas iluminadas por lâmpadas fracas, paredes pichadas com frases de revolta e poesia, rádios tocando vozes que misturam funk, sertanejo, samba e desabafo. O tempo passa devagar, mas o jogo exige decisões constantes. A vida nunca para. O visual de 66BR é minimalista, quase poético. Cada tela parece uma ilustração de livro. Não há explosões, apenas olhares, passos, gestos. O foco está no texto, nas escolhas, no ritmo da rotina. As conversas são carregadas de subtexto, e cada personagem secundário tem uma história: o vizinho que já perdeu tudo, a menina que quer ser bailarina, o ex-professor que hoje vende balas no sinal. A vida pulsa por entre os diálogos, e o silêncio entre eles fala ainda mais. O sistema de jogo se apoia em três pilares principais: Corpo, Cabeça e Coração. Manter o corpo saudável exige alimentação e descanso, a cabeça pede estudo, leitura, e planejamento. O coração é o mais difícil: ele se alimenta de sentido. É ele que faz o personagem continuar, mesmo quando tudo aperta. Perder o coração significa entrar no “modo automático”, onde o jogo muda de cor e o mundo se torna mais frio, mais cinza. Para recuperá-lo, o jogador precisa encontrar momentos de beleza e conexão: uma conversa, um gesto de carinho, um dia de sol depois de muita chuva. O som é outro protagonista. A trilha sonora é discreta, com violões, tambores e vozes suaves. Mas há também o som da cidade: buzinas, passos, gargalhadas, discussões, trovões. Tudo compõe a experiência. Em certos momentos, o jogador encontra rádios e toca-fitas com músicas que ativam memórias. Escutar aquela música da infância, por exemplo, pode mudar o rumo do jogo inteiro. 66BR não é feito para ganhar ou perder, mas para sentir. Seus finais variam, mas nenhum deles é exatamente uma “vitória” no sentido clássico. Um final pode mostrar o personagem conseguindo estabilidade como feirante. Outro, recomeçando a vida em uma cidade menor. Há finais tristes, de exaustão e perda. Mas há também os suaves, aqueles em que, apesar de tudo, o personagem encontra paz e sentido em sua trajetória. O maior mérito de 66BR é o respeito que ele demonstra pelas pessoas reais que inspira. Em vez de transformar pobreza em “desafio” ou “nível difícil”, ele trata com dignidade as decisões que, para muitos, são o pão de cada dia. O jogo não julga. Ele observa. E, ao observar, convida o jogador a fazer o mesmo.

66BR não quer ser divertido. Quer ser verdadeiro. É uma experiência que convida à empatia, à reflexão e à consciência. Num mundo cada vez mais acelerado, ele nos obriga a parar, olhar ao redor e perguntar: como é viver com tão pouco? E por que isso é realidade para tantos.


lombardo mosiman

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